Contra as expetativas da própria, a atleta apurou-se entre centenas de mulheres de todo o mundo. Serão só 40 a competir nos CrossFit Games 2024, e Juliana é uma delas!
Mãe de 2, atleta, personal trainer e coach na box CrossFit de Alvalade, onde treina e trabalha ao lado de Bruno Militão, seu companheiro, conhecido no mundo do CrossFit e não só pelos feitos que já conquistou nesta modalidade. Se o acompanha, sabe que estamos a falar de Juliana Braz.
A atleta, que já está a caminho dos Estados Unidos da América para aquela que será a sua primeira participação nos CrossFit Games, falou com a Women’s Health sobre as suas expetativas para esta competição e a sua visão sobre o CrossFit – e sobre as mulheres neste mundo competitivo. De forma bem natural e com o coração na boca, deixa-nos com a certeza de que é a nossa própria força de vontade que nos leva onde queremos, mas ter as pessoas certas ao nosso lado, faz toda a diferença.
Foi a primeira vez que te classificaste para os CrossFit Games. Conta-nos como foi o processo de qualificação.
Sim foi a primeira vez, entrei na categoria dos 35/39 anos (Masters) em que o apuramento é a nível mundial. Passamos por três fases de apuramento, o OPEN que se inscreve quem quiser, após esta primeira fase há os quartos de final, onde passavam 25% dos inscritos no mundo da minha categoria, e a seguir eram as semifinais que passavam 200 atletas das quais as melhores 40 do mundo vão disputar a final presencial no Alabama, nos EUA.
Nos anos anteriores, era muito difícil representar Portugal pois o apuramento é por região e a Europa é a região mais forte na competição que vai dos 18 aos 34. Além disso, eu passei alguns anos entre gravidez, parto, recuperação X 2 (Maria 5 anos e 10 meses e o Miguel de 3 anos e meio).
A qualificação foi difícil porque em dezembro tive uma ruptura total de uma das porções do bicípite (cerca de dois meses antes do apuramento começar) o que fez com que ficasse estes 2 meses sem fazer praticamente nenhum exercício com o braço e perdi bastante o meu fitness neste tempo. Por isso, garantir o 39.º lugar nas 40 vagas já pode ser considerado um milagre.
Como te sentes? O que esperas destes Jogos?
Sinto-me grata! Estava a preparar-me para isto e estava a correr tudo na perfeição. Até à lesão, sentia-me óptima. Quando aconteceu, pensei mesmo que estava tudo perdido, uma época inteira de treino perdida. Mas como o meu coach diz: “mantém a luz acesa” estás melhor todos os dias após a lesão, vai dar!

O que eu espero: Sou sincera sobre isto, as atletas que lá estão são mesmo muito fortes, a maioria delas só treina, não tem filhos ainda, dormem bem, etc… Estar lá para mim já é a maior conquista, poder dizer aos meus filhos que a mãe dele é uma das mulheres mais EM FORMA do mundo já é incrível. Vou dar o meu melhor e tentar subir na leaderboard o máximo possível.
Nas tuas redes, partilhas muito o apoio do Bruno Militão. Que significado tem competires ao lado dele?
Ele é o meu exemplo. Além de ser o meu treinador, ele é o meu parceiro de treino, ele é o atleta mais focado que conheço, o exemplo que ele dá todos os dias quando treinarmos juntos fez com que mudasse imensa coisa em mim, principalmente a nível mental, sobre os meus limites. Por isso, queria muito me qualificar por mim e por ele! Como Coach, ele merecia isto, levar um atleta dele aos GAMES, queria mesmo ser eu a realizar este desejo que sabia que ele já tem a muito tempo.
É incrível estarmos a viver isto juntos, partilhamos tudo. As dores, as frustrações, os problemas, o trabalho, os filhos. Partilhar a Arena é mesmo uma realização muito grande.

Conta-nos como foi o teu percurso desde que entraste no mundo do CrossFit até hoje.
Eu sempre estive ligada ao exercício, de forma diferente, mas sempre estive. Desde muito pequena até aos meus 16 anos fiz dança – todos os tipos, basicamente (ballet, contemporânea, samba, até dei aulas de Zumba com 16 anos). Depois, passei a treinar musculação e a ir a aulas de grupo no ginásio porque comecei a trabalhar e estudar e tive de deixar a dança. Vim para a Europa com 18 anos e até aos 23 sempre fiz o mesmo: musculação e aulas de grupo. Estava focada em competir em fisioculturismo na categoria Bikini fitness (pesava 50kg, menos 18 que agora).
Com 23 anos, conheci o CrossFit na primeira “box” do Bruno, que na verdade era só um pavilhão com chão de madeira com pouco material onde ele começou a praticar a modalidade. Fiquei rendida, pelos exercícios todos sem máquinas, pelos resultados que via no corpo, pela mudança até da auto confiança. Deixei o ginásio e comecei a treinar só isto até hoje! Abrimos a CrossFit Alvalade e aqui estamos. Já participava em competições nacionais maioritariamente em equipa até decidir ter os meus filhotes. Fiz CrossFit em todos os momentos, na gravidez, no pós parto e só após 1 ano do Miguel nascer, decidi voltar a competir mas sozinha, não em equipa e para isto tinha que ser a sério. Foi então que entrei para a BMMENTALITY que é a programação do Bruno para atletas e cá estou!
Na box onde trabalhas, a CrossFit Alvalade, és apresentada como Fit Mom. A maternidade mudou a forma de veres o desporto? Mudou-te enquanto atleta?
Sim! Adoro a alcunha. A maternidade não mudou a forma de ver o desporto porque já tenho isto muito incutido em mim, treinar devia ser para todos como lavar os dentes. A maioria das doenças poderia ser evitada se a população treinasse e comesse de forma mais saudável.

Mudou-me como atleta, sim. Até engravidar, nunca havia nada que me “limitasse”. Competia, nos dias com menos vontade fazia menos uma parte do treino e não me sentia mal por isto. Mas após a gravidez, que é um período grande onde a prioridade é o bebé e não podia fazer cargas com mais de 75% dos meus máximo, não podia fazer saltos, não podia fazer abdominais, etc, era tudo adaptado, não sentia o frio na barriga de entrar na arena, queria fazer as coisas do treino e não podia, estava limitada. Depois, veio as 8 semanas sem fazer absolutamente nada de exercício (fiz 2 cesarianas, tinha de respeitar) e naqueles momentos eu só pensava “queria tanto treinar”. Queria tanto fazer este ou aquele exercício. Isso fez com que eu passasse a dar ainda mais valor ao poder treinar, e este valor faz com que eu dê o melhor de mim em cada treino. Nunca sabemos quando – seja por lesão, doença ou outra coisa qualquer – vamos ter de deixar de fazer aquilo que tanto gostamos. Por isso, cada dia aproveito ao máximo!
Enquanto crossfiter, como vês esta modalidade para as mulheres? Há diferença de géneros, nos apoios e oportunidades?
Acho que é a melhor modalidade para as mulheres. Andava sempre no ginásio com caneleiras a fazer bumbum Brasil para ter um glúteo definido. Com o CrossFit, consegui isto sem ficar ali a fazer o mesmo incansavelmente. Há um grande mito à volta desta prática por mulheres, de que vamos ficar muito grandes se fizer CrossFit, isso é uma grande mentira também. Eu treino 4 horas por dia, 11 treinos por semana e sou das mais pequenas. Se fizerem uma aula por dia de uma hora vão ficar saudáveis, bonitas, tonificas e mais funcionais, ou seja, vão estar mais aptas para o que é a vida, para brincar com os filhos, para carregar coisas, etc. Na parte da competição, não sinto que haja diferenças a nível de apoios ou oportunidades. Há mais visibilidade para eles porque há mais homens a praticar, mas não sinto diferença.
Precisamos de mais mulheres no CrossFit, concordas? Que mensagem queres passar com esta tua participação nos CrossFit Games?

Simmmmm! Precisamos de muitas mais. Nas competições nacionais há sempre poucas mulheres tanto que na maioria das vezes há o dobro ou mais vagas para homens em comparação com as vagas para mulheres, e isso acontece pela falta de atletas.
A minha mensagem é que, se eu com 35 anos, 2 filhos, trabalho, casa, etc. consegui-me qualificar, se forem bem treinadas e acompanhadas também podem conseguir. As mais jovens então, só precisam fazer boas escolhas!
Os CrossFit Games 2024 aconteceram de 29 de agosto a 1 de Setembro (de quinta-feira a domingo). Segue Juliana Braz e Bruno Militão nas suas páginas de Instagram.